Agora, a pintura e a finalização!
Praticamente nada foi necessário em termos de correção ou emassamento, apenas uma micro fresta ou outra, em geral preenchidas com a masilla acrílica da Vallejo. Isso facilitou bastante as coisas, já que sem emassamentos significativos, não foi necessário lixar nada e o rico detalhamento da superfície foi bastante bem preservado, evitando retoques.
Apliquei sobre o kit um par de finíssimas camadas de primer preto da Drycolor, intercaladas por um passe do infatigável paninho de polir para remover as “poeiras”. Estou começando a me entender melhor com essas tintas automotivas – que, se aplicadas corretamente, são mesmo um sonho em termos de cobertura, durabilidade, tempo de secagem e trabalho e preservação dos detalhes.
A camada seguinte foi de “White Aluminium”, também da Drycolor. Achei que essa cor emula bastante bem o “Alumilack” protetor que pelo que pude apurar era aplicado sobre os Claudes despachados para o conflito na China. Aplicação fácil e resultado impecável. Selei o alumínio com uma boa demão de verniz rápido pronto para uso da Lazzuril, garantindo a qualidade do acabamento metálico contra as inevitáveis marcas de dedo, arranhões e fita.
Depois esse alumínio vai receber uma camada de verniz colorizado para fazer o Ame-Iro, mas isso é daqui a pouco...
A cauda foi mascarada com a nova fita de vinil da Tamyia (3mm, branca) que é bastante elástica e absolutamente fantástica para fazer linhas definidas em superfícies com curvas complexas. Recomendo! Protegendo o entorno, um bocado de fita para evitar respingos (o verniz também ajuda nessa seara, basta dar uma polida que essas “sujeiras” saem com mais facilidade). O vermelho é sempre ingrato em termos de cobertura. Para facilitar as coisas, uma boa demão de branco poliéster serviu de base para o Bright Red da Drycolor. O tom dessa tinta não é o exato dos Hinomarus e demais decais do kit, mas achei próximo o suficiente para não me dar ao trabalho de tentar misturar a cor ou adquirir outra.
Tudo pintado, apliquei um par de camadas de Future para preparar a aplicação dos decais. A segunda camada recebeu uma gota de Vallejo Model Air Midstone (aquela cor da camuflagem de deserto da RAF), que achei próxima do tom que imagino para o “caramelo” do Ame-Iro. O tom também parece o de peças metálicas cobertas por verniz “queimado” pelo sol – quem tem barco conhece bem isso. A proporção de tinta pra verniz é bem pequena, estimo em torno de 1,5% (1 gota de tinta pra o copo de 3ml do aerógrafo de verniz), mas foi suficiente para dar o tom sutil que eu desejava.
Até aqui, tudo muito bem, até os decais.
Levei o modelo pra sede no sábado crente que iria finalizar a montagem em grande estilo. Ledo engano!
Ao aplicar os hinomarus, deu pra perceber que os decais eram grossos e, pior, quebradiços. O primeiro hinomaru, aplicado na asa inferior, não assentou direito nas linhas de painel, nem com o uso de Microsol e outros produtos similares. O segundo esfarelou-se junto da luz de posição da asa superior. Só foi salvo um tempo depois com uns retoques de tinta (vermelho 003 da Mig, acrílica, um match quase perfeito para o vermelho do decal). Depois de um pouco de luta, todos os hinomarus estavam no lugar mas eu teria que descobrir um jeito de assentá-los direito. Apliquei alguns estênceis (aqueles “não pise” que ficam no bordo de fuga da asa), que, pequenos, assentaram bem.
Em seguida, tentei o numeral da cauda, que imaginava poderia ser um desastre, pois ele deveria se conformar sobre os salientes acionadores do leme de direção. Infelizmente eu estava certo: desastre total, o decal rachou, quebrou e se deformou, apesar de todos os cuidados. Perda total, e vários colegas testemunharam os esforços para assentá-lo de forma pelo menos razoável. Por conta disso, acabei mudando a versão do modelo que iria fazer: escolhi o “218”, do 14. Kotukai (opção 2 do kit), o único cujas marcações não avançam sobre as saliências do leme. Escaldado, tomei todas as precauções possíveis e consegui aplicar os decais adequadamente. Um outro problema que observara até então nos decais é que, além de quebradiços, a cola era muito “forte”, ou seja, o decal já ia logo grudando onde encostasse, sem margem para ajustes. Consegui contornar isso com uma dose generosa de MicroSet (aquela solução pré-decal que pelo menos eu quase não uso), que ajudou o decal a “escorregar” um pouco mais. Meia hora de compenetração e ambos estavam satisfatoriamente nos seus lugares.
Chegou a vez da faixa vertical. Esse decal rachou ainda na folha logo após umedecido, e quebrou-se em vários pedacinhos. Num raro momento ninja-zen, fui colocando cada pedacinho no seu lugar com um pincel e, ajudado por um bocado de Future e um arsenal de substâncias químicas, consegui colá-lo de forma razoavelmente convincente. As fotos abaixo mostram o que deu pra fazer.
Desculpem, mas não me foi possível fotografar os decais em mil pedaços e/ou a sua recuperação - é preciso foco nesses momentos...
Restava aquela inscrição gigantesca na lateral da fuselagem, entre a faixa e o hinomaru. Estava com péssimos pressentimentos e resolvi deixar pra fazer aquilo em casa. Mais tarde, de noite, escaneei o que restava da folha de decalques e me preparei para imprimir as inscrições em filme de decal transparente, como medida de precaução. Mas antes fui para a bancada e tentei aplicar o decal original.
Incrível!, o decal transparente assentou perfeitamente. Fino, até mais elástico do que eu gosto, assentou perfeitamente nas linhas de painéis, uma belezura. Mal comparando, parecia um decal dos novos da Eduard. E assim foram os demais decais. Depois da tempestade, a bonança.
O que houve, então? Imagino que o problema está na camada de tinta branca usada na confecção dos decais. O filme do decal é bom, elástico, embora o adesivo seja forte demais. A tinta preta acompanha bem o filme, e assim os decais de estênceis são todos excelentes. Onde há tinta branca no decal, porém, ele fica espesso e muito quebradiço, praticamente inútil. Creio que, preocupados em não deixar os decais translúcidos, ou os fabricantes exageraram na quantidade de tinta branca, ou usaram um pigmento pouco elástico, ou ambos. Sobre uma base bastante elástica, as partes brancas quebravam-se sob o menor esforço – um desastre completo.
Recomendações:
(1) para o modelista – compre decais aftermarket ou pelo menos pinte os hinomarus e as eventuais faixas;
(2) para a Wingsy – procure resolver o problema da camada branca dos decais, ou troque de fornecedor. O kit é bom demais para esses decais que são fornecidos.
Para assentar melhor os decais renitentes, a solução foi aplicar diversas vezes uma solução bastante forte (eu usei a Hypersol da Agama, tampa preta, a coisa mais forte que tenho nessa área), passei a ponta de um estilete zero km nas reentrâncias para “cortar” os decais e retoquei aqueles inevitáveis pontos onde o decal rasga, etc, com tinta e pincel. Por fim, dei uma camada de Future pra igualar as coisas. Olhando agora, não dá pra imaginar o trabalhão que eles deram...
Etapa de aplicação dos decais pronta, selei tudo com Future pra igualar. Colei as peças restantes (“poweregg”, bequilha, antena, pitot, etc) e selei tudo com o fixador de pastel da Talens, que deu um tom fosqueado na medida certa para o meu gosto. As luzes de navegação e posição foram pintadas com esmalte transparente vermelho da Tamyia e com Verniz Cristal azul da Acrilex (pra ninguém aqui dizer que eu tenho preconceito contra a Acrilex...).
Retirei as máscaras do poço do cockpit e dos vidros do para brisas e em seguida colei o para brisa e o telescópio da mira nos seus lugares, o primeiro com cola branca e o segundo com CA. A antena foi feita com EZ Line fino preto, colada com CA. E a hélice está presa ao eixo com o auxílio de uma micro bolinha de Blu Tack.
Pronto!!
O próximo post trará algumas fotos dele pronto, comentários finais e alguns dos produtos quue usei nesta montagem.
